sábado, 6 de outubro de 2012

[Dó-Ré-Mi] 1972: Acabou Chorare



A coluna Dó-Ré-Mi de hoje abre espaço para um dos maiores fenômenos da música brasileira de todos os tempos, os Novos Baianos. O grupo era formado por Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Baby Consuelo (única não-baiana do grupo).

Em 1969, enquanto aqui no Brasil a ditadura estava mais viva do que nunca, no hemisfério norte a guitarra de Jimi Hendrix soava psicodélica. Porém, aqui, sambista não se misturava com roqueiro, logo, quem gostava de Hendrix, achava Chico Buarque careta. Os Novos Baianos conseguiram unir as duas coisas e transformaram o que ainda era discurso na voz de Gil e Caetano em música da melhor qualidade: eles uniram o rock com a riqueza harmônica da MPB.

Como se já não estivesse bom o suficiente, eles tiveram aulas particulares com o genial criador da bossa nova, João Gilberto. Foi com a ajuda dele que aprenderam o valor que tem uma boa harmonia e o prazer do suingue brasileiro. Os Novos Baianos uniram o tradicional ao moderno, foram do rock ao frevo, passando ainda pelo choro, forró e afoxé.

Depois dessa introdução aos Novos Baianos, vamos falar do disco (isso mesmo, tempos de LP) de hoje: Acabou Chorare.

Capa
 
A música de abertura – Brasil Pandeiro – é um clássico de Assis Valente, uma das mais belas canções compostas no Brasil. A abertura já deixa claro o que eram os Novos Baianos: uma mistura de gêneros e ritmos que compõem a identidade brasileira. Essa que é a minha música favorita deste álbum expõe a coragem e ousadia dos integrantes quando cantam: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”. Preta, Pretinha, talvez a mais lembrada até hoje, traz certo clima de confraternização. A única mulher do grupo, Baby Consuelo, mostra força, suavidade e sensualidade em Tinindo, Trincando e A Menina Dança. As duas músicas são uma mistura de rock com ritmos tipicamente nordestinos, como o baião. Acabou Chorare – música título – transpira paz. É um momento de introspecção. Uma curiosidade é que Acabou Chorare foram palavras ditas por Bebel Gilberto, quando criança, enquanto tentava dizer ao pai que estava bem. Aí temos a prova concreta da influência do gênio da bossa, João Gilberto. Swing de Campo Grande e Besta é Tu trazem o samba, ritmo que, em meio a grande mistura, sempre prevalecia. Não é a toa que, mesmo depois de 40 anos de seu lançamento, Acabou Chorare continua sendo, na opinião dos loucos por música, um dos maiores discos brasileiros de todos os tempos (chegando a figurar no topo do ranking). Tanta inovação e irreverência continuam a ser descobertas pelas novas gerações, exemplos disso são Roberta Sá e Mariana Aydar. Ambas beberam dessa fonte.

O grupo acabou se desfazendo em 1978 e seus integrantes seguiram carreira solo. Eles continuaram a unir estilos obtendo resultados ainda brilhantes.


Mas a melhor descrição que fica desse grudo fenomenal, foi feita pelo próprio Luiz Galvão no encarte do disco. Ele diz:

"Não é uma família. Talvez um time. NOVOS BAIANOS. Mais perto do som. No seu mundo subterrâneo. À beira do abismo. Por fora de 'Ismos'. Na porta. Varrendo o terreiro. Lavando os pratos como quem faz música. Sem prantos, na fonte, na boca da criação..."

Faixas1:

Lado A
Lado B
5. Preta, Pretinha (Reprise)

"Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar".
(Brasil, Pandeiro)


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Para fazer justiça, preciso confessar que neste disco meu coração se divide entre duas canções: Brasil Pandeiro e Mistério do Planeta.

1 Para ouvir as músicas, basta clicar.

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